quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

BOAS FESTAS






Humanos/desumanos:


Meu enorme e variadíssimo público de leitores solicitou-me para escrever sobre o NATAL e o ANO NOVO.

Lembrei-me de dois fatos marcantes, ocorridos há anos atrás. Estava com a família, na serra (como é bom o frio ...leiam Silêncio, frio e escuridão), em pleno Natal. Eis que, meu marido Norival (Nori, para os íntimos) em plena farta e rica ceia de Natal, talvez movido pela bebida (já dizia o maior dramaturgo do Ocidente:- “O bêbado não mente!”) e pela emoção do momento, levanta-se e dispara:- Meus amigos:-“ O verdadeiro espírito de Natal seria chamarmos os serviçais deste hotel e os servirmos à mesa.. O que acham?...”.

Sob o olhar patético do dono do hotel e dos demais hóspedes, pois o hotel achava-se lotado, fez-se por instantes um silêncio mortal.

Deu-me a impressão que o peru, o leitão, o faisão, mexeram-se na mesa, virando-se para o autor da idéia. As frutas, que eram inúmeras e raras também balançaram. Nossas filhas Fran e Stal estavam já debaixo da grande mesa festiva, numa feliz “guerra” natalina, cujas armas eram coquinhos,amêndoas, nozes, castanhas... Éramos uma família unida (leiam O Casamento), naquela noite.

Mas, retornando ao fato inédito e inusitado, o silêncio começou a ser cortado pelas vozes dos ilustres hospédes:-“ Claro este é o verdadeiro espírito...!”. -“ Sem dúvida...!” O dono do hotel balbuciou, nervosamente:-“ O socialismo chegou!...” -“ Bem no meu hotel, poderia ser em outro... ”disse rindo, parecendo ser simpático...

Assim, os serviçais foram chamados e timidamente foram sentando à mesa.

E, nós os servimos com as mesmas caras e raras iguarias natalinas, sob o olhar perplexo do proprietário do hotel de luxo.

Quando terminaram rapidamente de comer, e algo constrangidos, pois não estavam acostumados, sentamos e fomos servidos por eles, enquanto nossas filhas continuavam em sua alegre batalha.

Até hoje, quando encontro com o dono do hotel, ele relembra o caso e quando eu disse que Norival, (Nori, para os íntimos) meu marido encontrava-se em um “breve repouso” num Hospital Psiquiátrico, ele respondeu, sem esconder o alívio:- “Só poderia terminar assim, dona Floraalma...”.

O outro fato marcante foi com um amigo na praia, na passagem do ano. E, novamente a bebida foi o estopim da conversa. Não. Não estávamos no estado de total embriaguez. Pois nossa conversa fluía de maneira que poderíamos chamar de normal (meus inúmeros leitores sabem que detesto esta palavra!), e falávamos no novo ano que iria nascer em instantes.

Após um gole, meu amigo disparou:-“ Floraalma, porque esta festa, este calor humano, esta alegria, esta solidariedade, somente neste dia? Saiba, que todo o dia o sol nasce e dorme no poente, todo dia é um recomeço, é um ano novo, uma nova vida.. Deveríamos celebrar todos os dias! Todos os dias!! ”... Gritava,extravasando.

Dito isto, fogos encheram o escuro céu de cores e formas, interrompendo a nossa conversação.

Olhei as lágrimas, que percorriam novos caminhos em seu sofrido rosto, iluminadas pelo clarão multicolorido.

Abracei-o com afeto.

E, ficamos ali, os dois, abraçados, selando uma amizade imorredoura.

Estes dois fatos lembrei-me, enquanto fazia as compras natalinas, (em meio ao “furor comercial do Natal”, como dizia minha tia Bella Mambah.) ,após a criadagem retirar os muitos presentes natalinos e de fim de ano de minha limusine presidencial azul profundo e no caminho para minha mansão estilo normando, ter visto humanos revirando o lixo à procura de víveres, ou outra coisa qualquer, talvez brinquedos...comecei a entender.

No dia sequinte, após ter lido nos jornais sobre o aquecimento global, degelo das calotas polares,desmatamento,guerras...entendi tudo.


PS:Mesmo assim, desejo que o vento da esperança de um mundo melhor invada e inunde vossos corações.

f.a.