terça-feira, 31 de agosto de 2010

VALORES MASCULINOS




Humanos/desumanos:

Incontáveis leitores com cartazes ( pensei tratar-se de campanha eleitoral), postaram-se em frente à minha mansão estilo normando, ainda de madrugada( pensei tratar-se de fila para pegar número, para atendimento médico) com o firme propósito de que esta escriba relatasse a reunião havida recentemente, na luxuosa residência de tia Vyborah, sobre o palpitante tema: Valores Masculinos.
Como a minha legião de leitores deve se lembrar, era uma resposta( tia Vyborah, dizia –“vingança já!...”) a Valores Femininos (leiam!), de saudosa memória, já postado.
Muito bem.
Coloquei aquele preto básico discreto assim como a maquiagem. Ao chegar ao jardim oriental de titia, aliás, muito bem conservado, com o frescor de suas fontes e a suave brisa de suas exóticas árvores, senti-me melhor.Fui introduzida ao fino recinto (já descrito em Valores Femininos, leiam!) pelo novo mordomo javanês de titia, criadagem trocada de tempos em tempos, -“quando a ONU muda de presidência, eu mudo aqui também...”assim tia Vyborah dizia.
Aquela estupenda mesa de carvalho canadense, onde víveres e finíssimos acepipes a ornavam. Pude ver um enorme faisão, e em suas entranhas pequenas iguarias, que poderiam ser pescadas por penas coloridas do mesmo.
Nozes, castanhas, passas, avelãs, etc. dos mais longínquos rincões da terra.
Além das clássicas bebidas, também importadas, gigantescos samovares russos de prata ornavam o ambiente, com diversos chás paquistaneses. Tia Vyborah, não fazia por menos. Aliás, tia Bella Mambah( também presente ao evento), dizia aos quatro cantos: “ A riqueza de minha irmã é proporcional à sua maldade!”... e ria.
Á frente desta orgia gastronômica, jovens garçons, morenos e fortes, vestidos a caráter, com luvas brancas. O som reinante: as 4 estações de Vivaldi.
Sentei-me e por maior discrição escutei um grito naquela multidão de mulheres, que tagaleravam sem parar: _ “Floraalma!”... Era tia Bella Mambah, abraçada com seu indefectível copo de vodca, aproximava-se. Cumprimentei-a com um sorriso.
Pude observar que tinha havido um encontro para tratar do tema “ O cunhado pode atrapalhar para sempre o seu casamento, cuidado!” cuja sigla Cupapacacu! tremulava ao vento, escrita em dourado num tecido mandarim azul. Como havia chegado atrasada, não soube maiores detalhes sobre o resultado do intrigante tema. Soube mais tarde, que as mulheres não chegaram à conclusão definitiva, pois algumas confessaram estar irremediavelmente apaixonadas pelos respectivos cunhados, outras eram suas amantes, e deu uma confusão( eram 32 mulheres!), que quase acabou em cenas de vandalismo e pugilato. Como eram senhoras da melhor estirpe da sociedade, ( bem lembrado por tia Vyborah, aos berros!), acalmaram-se.
Os ânimos e paz voltaram a reinar naquele recinto feminino e feminista agora dominado pela Quinta de Beethoven.
Tia Vyborah, pediu a palavra ( sempre foi dela!) e iniciou o “prato principal” da noite:
-“Minhas queridas, estamos aqui reunidas, mais uma vez, para dar a verdadeira resposta a estes homens machistas, que pensam que nós, as mulheres, somos seus pertences, empregadas, objetos sexuais, bancos, etc.etc. Não! Não somos! Somos mulheres e exigimos respeito!”Aplaudida pela seleta platéia, diria ovacionada! Pois tia Bella Mambah já dava mostras do efeito da vodca e pôs-se a falar as suas verdades (lembrei-me mais uma vez:- “O bêbado não mente!” - dizia o maior dramaturgo do Ocidente).
E, continuou:-“ Nós vamos mostrar a estes porcos chauvinistas que também somos gente! Temos sentimentos! Assim relacionei uma lista de Valores Masculinos que escolheremos, a saber: Amor; Amizade; Dinheiro; Sexo, Aparência; Inteligência. Votem com calma, em silencio e em ordem! É uma ordem!” O medo era tanto de tia Vyborah, que foi obedecida, solenemente. As locomotivas socialites iam uma por uma, colocando seu voto, secreto, numa urna banhada á ouro sob um legítimo tapete persa. O silencio era ensurdecedor.
Súbito, tia Bella Mambah dispara: -“ A minha ordem é sexo, sexo, sexo e mais sexo!” E, ria ás gargalhadas, provocando a liderança da irmã. Esta por sua vez, fingindo não dar importância ao escândalo que começava a se armar, tentou de todas as formas calar tia Bella Mambah, que iniciava um discurso, no alto de seus imutáveis 89 anos, digno da mais memorável verdade etílica. E, prosseguia: -“ O que adianta dinheiro, amizade, aparência, inteligência... sem o sexo?” perguntava á platéia ávida por novidades, que quebrou o silencio solene, com aplausos, no início tímido, calorosos depois.
Dois garçons se encarregam de tirar tia Bella Mambah do recinto, sob protestos da turba feminina, que, num gesto solidário, saiu junto com a revolucionária. Eu também aderi ao grupo.
A festa acabou naquele momento. Tia Vyborah teve um ataque de nervos, chutou a urna banhada em ouro, os votos voaram pelos ares. Machucou o pé e precisou se ausentar em seus aposentos. Soube mais tarde, que todos acompanharam tia Bella Mambah em casa e ao chegar ao portão, encontrou tio Zumbyhvivo que a aguardava e sem cerimônias maiores, o beijou tão voraz e sofrequidamente, que foi preciso à ajuda de populares para separá-los. O idoso tio Zumbyhvivo foi levado às pressas ao posto médico mais próximo. Os dois passam bem.
Eu procurei o motorista que sempre me servia. Aquele moreno, de peito havaiano, cabelos lisos pretos, educado, jovem, de terno azul marinho, luvas brancas e sorriso alvo. Ele abriu gentilmente á porta da limusine refrigerada. Passou todo trajeto em silencio, observando-me pelo espelho retrovisor. Ao chegar a minha mansão normanda, ele fez menção de entrar, com a desculpa de um café. Não permiti. Agradeci discretamente o serviço e mandei lembranças à sua esposa e beijinhos nos filhinhos.Banhei-me em minha banheira olímpica egípcia com sais tailandeses. Sorri ao lembrar da reunião( qual seria o resultado?) e de não ter usado a famosa cama catapulta.

f.a.