sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

REVEILLON

 

                                              

                         
Humanos/desumanos:


Meus inúmeros e amados leitores (as) fizeram uma passeata (está na moda!) e com faixas, carros de som, banda e sei lá o que mais o que, postaram-se em frente à minha mansão estilo bávaro normando. Fui acordada e alertada pela fiel e eterna governanta Goldawasser. Após abluções matinais em minha cuba dourada a ouro 24K,vesti-me como de costume e ocasião: calcei sandálias italianas com tiras de couro da mesma cor de meus sedosos cabelos, uma blusa branca de linho egípcio, contrastando com minha tez morena jambo, um short australiano, na cor azul caribe profundo. Pouca maquiagem para a ocasião. Goldawasser disse que eu estava lembrando a personagem Gilda (Rita Hayworth). Agradeci lisonjeada. Sentia-me bela (até quando?) e esfuziante.

O pedido da multidão, que se aglomerava, era para lembrar o Réveillon, onde mais uma vez, meu primo Uthopicus foi o grande protagonista, como já não bastassem outros exemplos: leiam GOL (05/07/2010) e O FIM DO MUNDO (31/12/2012).

Coloquei-me na sacada de minha mansão, com a minha presença escultural, fez-se um silêncio tumular. Munida de um microfone e com cálida voz, iniciei:

“Uthopicus, aquele meu primo estranho, vinha planejando aprontar alguma para o Réveillon que se aproximava. Falava pouco como de costume e trancado em seu quarto a sete chaves, confeccionava faixas. O que diziam estas faixas? Mistério... Segundo ele, só seriam lidas no 31/12. A família se preocupava e dava-lhe conselhos:- Não faça isso/aquilo!... Inclusive eu:- Uthopicus, querido, arranje uma namorada e vá curtir o 31/12 na serra! Vc. gosta tanto! O povo tem o direito de se divertir ora já se viu?!... Em vão.”

O silencio só foi quebrado pelos trinados dos charmosos perus importados da Islandia, que não tivemos coragem de abatê-los para o Natal. Tanto meus lulus da Pomerania Vitty y Liggo postados aos meus belíssimos pés, quanto os meus idosos periquitos Béria y Gomulga da Austrália, estavam quietos. Como a escutar... Fui em frente:

“No 31/12, Uthopicus sai cedo de casa sem se despedir. Dirigiu-se ao aeroclube local, onde era sócio. Tinha brevê.

E, desapareceu. Não disse para onde ia, naquele 31/12.

Faltando segundos para a grande virada e já no espocar dos foguetes e fogos coloridos, avistou-se um mono motor com faixas aproximando-se da orla. Assim que o pequeno avião iniciava seu protesto pela orla, a chuva de fogos coloridos começou e infelizmente (fiz uma breve e comovente pausa) atingiu em cheio aquele teco teco, que caiu no mar,despercebido no meio de tanto colorido e alegre algazarra.

As faixas flutuavam e as águas iam lentamente apagando as letras que diziam: ENQUANTO VOCES PAGAM E BRINCAM A SAÚDE/EDUCAÇÃO NÃO EXISTEM! ABAIXO A CORRUPÇÃO! COMEMORAR O QUÊ?! ALIENADOS!E, outras do tipo...

Não se soube mais do pobre Uthopicus. Tomara que tenha sobrevivido, apesar daquela insanidade (fiz outra breve, comovente e definitiva pausa, com a voz embargada pela emoção).”

Assim desejo, para vocês um ano novo repleto de saúde, paz e realizações!

A multidão foi-se dispersando, vagarosamente. Silenciosamente.

Eu, ainda fiquei para um banho de sol, com um protetor solar suíço fator 100, agora com meu biquíni colorido do Tahiti, Polinésia Francesa, na sacada de meu quarto faraônico. A piscina semi olímpica, de águas minerais, aguardava-me para o  refrigério.

f.a.