sábado, 11 de dezembro de 2010

PAPAI NOEL





Humanos/desumanos:


Incontáveis leitores suplicam por algo que os faça lembrar a data magna. Assim, fui acordada em minha cama faraônica egípcia, por um avião(pasmem!), que rebocava uma faixa em letras colossais e coloridas, solicitando-me que escrevesse algo a respeito. Já tinha postado anteriormente sobre o tema ( leiam: BOAS FESTAS)
Face à grandiosa manifestação, lembrei-me de um fato marcante ocorrido com meu primo de terceiro grau( haja graduações!), o saudoso Armagedon Atilla Sátiro, vulgo AAS, assim chamado, porque ao mesmo tempo “dava dor e cortava as cabeças...”, como dizia seu velho pai.
Nascido em berço de uma pobreza franciscana, filho único, meus tios colocaram esse pomposo e ostensivo nome (Armagedon Atilla Sátiro) com o intuito de grandeza. Só o último nome vingou. É o que se conta...
O espírito de megalomania acompanhou esta alma danada( inferior). Nem o status de alma atormentada( média) e muito menos a de alma penada (superior), chegaram perto de AAS.
Educado na base de “farinha é pouco, meu pirão primeiro...” ele foi crescendo aos trancos e barrancos. Estudou pouco como pouco era seu interesse pelo estudo.
Teve raras namoradas dada as suas características violentas e satíricas.
Cleptomaníaco contumaz. Raras vezes convidado ás festas. Quando ia, os donos da casa sentiam falta de inúmeros objetos. Na última que freqüentou, roubou toda a prataria e louça do aniversariante. De um cinismo deslumbrante, negava com uma certeza positiva, daí seus dons teatrais aflorarem e numa feita, surrupiou toda a roupa e adereços dos colegas de palco. Pouco confiável, foi crescendo e seus atributos fizeram-no candidato a vereador, pelo pobre bairro.
Teve menos votos que o número de familiares, que juraram votar nele.
Semi-analfabeto, foi gari de rua um tempo. Até sentirem falta do material de limpeza do bairro que servia. Ajudante da paróquia local, até sentirem falta dos copos de prata, onde o padre bebia o vinho. Roupeiro do time local, até que o time entrou em campo de terra batida com quatro atletas descamisados. Enfim AAS dava muita dor de cabeça.
Preso inúmeras vezes, é claro, ficava pouco tempo e saía da prisão com alguma lembrança. A última foi com a caneta de estimação do delegado, que até hoje chora a perda.
Chegava o Natal. AAS engordara, e soube da procura por um Papai Noel num famoso shopping próximo. Com uma falsa simpatia ganhou o cargo. Tirava fotos com as crianças, de olho nas mamães. Ainda bem que usava roupas de tecido espesso..
Estava agradando. Cumpria a contento o seu papel de Papai Noel.
Os anos foram passando e Sátiro ia travestido na aparência e na vestimenta com aquela roupa vermelha, pesada, para um clima diferente do nosso.
Todo ano a mesma representação.
Ocorre que nos intervalos natalinos, Sátiro estudava e alfabetizava os carentes. Com isto, ia se mantendo às duras penas. Lia vorazmente, o que havia de melhor em filosofia,antropologia, ciências políticas, sociologia, psicologia, história, educação, etc. Um verdadeiro auto didata. Foi emagrecendo, talvez de tanto estudar e pensar. A sua função de Papai Noel foi perdendo a graça para o próprio.
Finalmente, após muitos anos de sucesso, como Santa Claus, naquele 24/12/2009, às 17 h 10m em pleno shopping fervilhante,deu-se o fato:
AAS(Sátiro) levantou-se da cadeira de Papai Noel( felizmente, sem nenhuma criança no seu colo naquele momento, pois antes centenas delas tinham tirado felizes à clássica foto) e deu um grito gutural, medonho, ensurdecedor.
O tempo parou naquele momento. O tempo era só dele. À medida que se despojava da maquiagem, das brancas peruca e barba, ia retirando as torturantes botas, casaco e calça vermelha. Retirou a única peça íntima. Ficou como veio ao mundo, mostrando a verdadeira prova de seu nome. Sob olhares atônitos e petrificados da platéia, que agora já aplaudia e gozava o momento.
E, disparou:-“ É tudo uma farsa! Farsa! Eu sou o maior farsante! Minto! Vendo ilusões! Engano as crianças! Vocês são hordas de alienados, que só sabem comprar! Consumir! Vorazes consumidores! Mentirosos! Hipócritas! O amor deveria ser todo o dia! A miséria está aquí dentro! O Natal é um comércio, onde a doença desenfreada é o presente que compra a felicidade! Qual? Aquela que...”. Não completou.
Sátiro( AAS) foi arrastado dali por fortes seguranças, que rápidamente o amordaçaram, cobriram-lhe as partes com trapos, sob uma estrepitosa vaia popular.
Rapidamente, um segundo Papai Noel o substituiu. O alto falante anunciava uma promoção “imperdível”, várias vezes. Flocos de neve artificiais caíam do teto. Uma nova música natalina inundou o shopping.
Soube deste triste fato por meu primo Alihenatus( leiam Feriadão), que com a esposa Neganadah e seu filho Alihenatus Jr. estavam por coincidência no Shopping e não fizeram nada, alegando estarem com mais presentes do que braços... Se fossem polvos...
AAS(Sátiro) foi levado em camisa de força ao Hospital Psiquiátrico.
Tempos depois fugiu. Nunca mais se soube dele.
Alguns dizem que trabalha, com êxito, como crooner numa boate, dada a potencia da voz, iniciada naquele dia de Natal. Outros juraram que o viram, fantasiado de rena, num comercial natalino.
Nada foi provado.
f.a.