quinta-feira, 7 de julho de 2011

ACADEMIA

Humanos/desumanos:

Meus incontáveis leitores fizeram uma passeata em frente à minha mansão de estilo bávaro normando. Achei que era uma manifestação de derrubada de regime, de governo, tamanha algazarra. Como sempre, uma faixa: ACADEMIA. Pensei tratar-se da Academia Brasileira de Letras convidando-me a tornar-me imortal, pelo blog, ou algum notório saber de minha lavra... Nada mais justo. Fiquei intrigada.
Após ter-me banhado na olímpica banheira egípcia, com sais aromáticos belgas, me enxugado com toalhas felpudas do Alaska, coloquei um esportivo brim básico francês na cor azul profundo. Calcei sandálias plataforma italianas douradas. Joguei os louros, sedosos e volumosos cabelos para trás. Estava bela, esbelta e com o frescor da manhã exalado de meu luxuriante jardim. Preparei-me para mais um encontro. Achei-me divina, sem falsa modéstia.
Solicitei a minha vasta criadagem que os recebesse. Assim foi feito.
Encontrei-os nos meus jardins suspensos, ala estilo Luis XVI, uma pequena comitiva, representando aquela turba. Sim, porque se todos adentrassem, as caríssimas e exóticos espécimes vegetais teriam o fim idêntico como o nobre que lhes dá o nome...
Pediam-me que falasse sobre o meu físico, como consegui este milagre sem recorrer às cirurgias, muito embora ainda tivesse o viço da juventude.
A multidão se acomodou e iniciei:

“ Meus queridos, o exemplo melhor seria o dos meus primos gêmeos de segundo grau, ela a Rubyh, ele o Stein. São muitos unidos, cantores de musica country. Eram chamados The Rubyhstein brothers.
Tiveram um sucesso relativo no início da carreira musical: alcançando um merecido terceiro lugar num programa radiofônico do interior, com 04 participantes. Gravaram seu primeiro CD, com canções do interior da Bessarábia. Foi o recorde negativo de vendas: só 06 vendidos! Embora a família fosse de 08 pessoas e todos juravam que iam comprar...
Um dia, os irmãos Rubyh e Stein viram os anúncios de uma Academia, onde se lia: Tenha um novo corpo!Garantimos ou seu dinheiro de volta!
Não pensaram duas vezes, matricularam-se.
Rubyh já com aquela gordurinha lhe incomodando e Stein com dificuldades de amarrar os sapatos, embora ainda fossem jovens e gostassem de hamburgers, salsichas, pizzas, frituras, refrigerantes e as comidas típicas de seus ancestrais.
Rubyh e Stein viram nos corpos dos colegas, exemplos a serem seguidos. Corpos esculturais, belos, sarados. E, mudaram-se, literalmente para a academia. Passavam todo o tempo exercitando-se. Levaram uma barraca de camping, onde dormiam na Academia, com os aparelhos...
Fizeram de tudo: alongamento nas primeiras horas da manhã; local; pilates solo; vinyasa yoga; abdômen/alongamento; jump; glúteo/abdômen; abdômen/alongamento; dança. Repetiam e emendavam as aulas até o fechamento da Academia. E tome musculação; spinning; ergometria, esteira...
Sem descanso. Disciplina espartana. Seis dias na semana. No domingo iam até ao shopping mais próximo para andar de escada rolante, sem sair do lugar... Na rua andavam como se andassem em esteiras... Seguravam o copo, garfo/faca como fossem alteres... Antes de dormir, dezenas de flexões... Escovavam os dentes várias horas para enrijecer os bíceps... Amarravam os sapatos, inúmeras vezes, conjugando com a respiração, sem dobrar os joelhos, até a exaustão...
Na Academia sucesso absoluto: flutuavam no ar no spinning, idem na esteira; com a bola do pilates pareciam focas amestradas; inspiravam/expiravam com tanta força que a Academia mudou de vidros algumas vezes; os pesos eram de algodão para a dupla. Sucesso era tanto que foram convidados a integrar o Cirque du Soleil... Declinaram.
Depois de uns 06 meses o resultado saltava aos olhos: músculos, uma curva de músculos!
Tiveram alguma dificuldade em circular, juntos, em pequenos espaços: os dois ocupavam com seus corpos musculosos todo o elevador, caso entrassem juntos, estava lotado!... Também em escadas de largura menor. Um problema.
Rubyh e Stein não tinham idéia de sua força: quebraram algumas mãos num simples aperto de mão; Stein foi palitar os dentes e, sem querer quebrou dois dentes; uma vez ao recuar uma bola, num jogo de futebol de rua, chutou a bola que continua em órbita...
Ela passou a ser chamada de Mulher aço( sem trocadilhos, é claro), e ele de Homem pedra.
Mas, estavam felizes.
Não casaram e hoje se exibem pelo mundo afora. Ruby e Stein enriqueceram. Sua marca tornou-se internacionalmente conhecida: Academias Rubyhstein. Estão abrindo uma filial no Afeganistão. Hoje estudam um método para não envelhecer. Escreveram-me, direto de Kabul, que estão perto da fórmula.”

Escutei discretas palmas.
Mandei servir um pequeno breakfast, para os poucos que sobraram. Executado por meus garçons hindus de luvas brancas e supervisionados por minha eterna governante, madame Goldawasser. A seleção jogava e a multidão foi se dispersando para ver os seus ídolos e sua paixão eterna.
f.a.