
Humanos/desumanos:
Meus inúmeros e
amados leitores (as) fizeram uma passeata (está na moda!) e com faixas, carros
de som, banda e sei lá o que mais o que, postaram-se em frente à minha mansão
estilo bávaro normando. Fui acordada e alertada pela fiel e eterna governanta Goldawasser.
Após abluções matinais em minha cuba dourada a ouro 24K,vesti-me como de
costume e ocasião: calcei sandálias italianas com tiras de couro da mesma cor
de meus sedosos cabelos, uma blusa branca de linho egípcio, contrastando com
minha tez morena jambo, um short australiano, na cor azul caribe profundo. Pouca
maquiagem para a ocasião. Goldawasser disse que eu estava lembrando a
personagem Gilda (Rita Hayworth). Agradeci lisonjeada. Sentia-me bela (até
quando?) e esfuziante.
O
pedido da multidão, que se aglomerava, era para lembrar o Réveillon, onde mais
uma vez, meu primo Uthopicus foi o grande protagonista, como já não bastassem
outros exemplos: leiam GOL (05/07/2010)
e O FIM DO MUNDO (31/12/2012).
Coloquei-me
na sacada de minha mansão, com a minha presença escultural, fez-se um silêncio
tumular. Munida de um microfone e com cálida voz, iniciei:
“Uthopicus,
aquele meu primo estranho, vinha planejando aprontar alguma para o Réveillon
que se aproximava. Falava pouco como de costume e trancado em seu quarto a sete
chaves, confeccionava faixas. O que diziam estas faixas? Mistério... Segundo
ele, só seriam lidas no 31/12. A família se preocupava e dava-lhe conselhos:- Não
faça isso/aquilo!... Inclusive eu:- Uthopicus, querido, arranje uma namorada e
vá curtir o 31/12 na serra! Vc. gosta tanto! O povo tem o direito de se
divertir ora já se viu?!... Em vão.”
O
silencio só foi quebrado pelos trinados dos charmosos perus importados da
Islandia, que não tivemos coragem de abatê-los para o Natal. Tanto meus lulus
da Pomerania Vitty y Liggo postados aos meus belíssimos pés, quanto os meus
idosos periquitos Béria y Gomulga da Austrália, estavam quietos. Como a
escutar... Fui em frente:
“No
31/12, Uthopicus sai cedo de casa sem se despedir. Dirigiu-se ao aeroclube local,
onde era sócio. Tinha brevê.
E,
desapareceu. Não disse para onde ia, naquele 31/12.
Faltando
segundos para a grande virada e já no espocar dos foguetes e fogos coloridos,
avistou-se um mono motor com faixas aproximando-se da orla. Assim que o pequeno
avião iniciava seu protesto pela orla, a chuva de fogos coloridos começou e
infelizmente (fiz uma breve e comovente pausa) atingiu em cheio aquele teco
teco, que caiu no mar,despercebido no meio de tanto colorido e alegre
algazarra.
As
faixas flutuavam e as águas iam lentamente apagando as letras que diziam:
ENQUANTO VOCES PAGAM E BRINCAM A SAÚDE/EDUCAÇÃO NÃO EXISTEM! ABAIXO A CORRUPÇÃO! COMEMORAR
O QUÊ?! ALIENADOS!E, outras do tipo...
Não
se soube mais do pobre Uthopicus. Tomara que tenha sobrevivido, apesar daquela
insanidade (fiz outra breve, comovente e definitiva pausa, com a voz embargada
pela emoção).”
Assim
desejo, para vocês um ano novo repleto de saúde, paz e realizações!
A
multidão foi-se dispersando, vagarosamente. Silenciosamente.
Eu,
ainda fiquei para um banho de sol, com um protetor solar suíço fator 100, agora
com meu biquíni colorido do Tahiti, Polinésia Francesa, na sacada de meu quarto
faraônico. A piscina semi olímpica, de águas minerais, aguardava-me para o
refrigério.
f.a.