terça-feira, 28 de abril de 2009

Gripe Suína


Estávamos frente a uma possível epidemia. O nosso solitário herói, preocupado com o noticiário, resolveu viver seu último dia. Vestiu-se, após as eternas abluções matutinas, tomou o seu café completo da manhã e colocou 500 reais no bolso para os seus últimos gastos.
Na rua movimentada, viu inúmeras pessoas com máscaras, que de certo modo, deu-lhe um alívio, pois não conheceria outros humanos e ele também de máscara seria desconhecido.
O que fazer nestes últimos momentos, vários pensamentos lhe ocorreram, os prazerosos: iria a uma dessas casas de sauna, onde uma jovem profissional do ramo, linda, cabelos lisos escorridos, de botas de couro preto com saltos altos,de seios firmes e generosos, de coxas roliças,de ancas firmes e sexo cheiroso.Iria ver o último treino do seu time de coração. Iria almoçar naquele restaurante onde tratava o garçom com uma intimidade já familiar e aquela comida viria como ele queria. Passaria na florista conhecida e compraria flores do campo, onde as matizes vistas e o cheiro de mato o deixaria embriagado de prazer.Passaria também no tradicional e conhecido jornaleiro, que também usava máscara, para ler as sempre tristes notícias e comprar as prazerosas revistas , sem antes bater um papo sobre a vida, com aquele velho oriundo, onde o cinema italiano de um passado recente era o assunto.
Súbito, um sentimento baixo de vingança o assaltou: aquelas mulheres, aqueles homens, que o traíram pela vida afora, os políticos que roubaram também a sua confiança... Sendo que o primeiro grupo seria mais fácil eliminá-los, pois eram poucos, mas o segundo grupo seria um genocídio, pensava... e, tentou e obteve êxito em afugentar estes nefastos pensamentos... E, de mais a mais, não haveria tempo suficiente, para planejar e eliminar estes infelizes...
Iria ao cinema, onde um festival do adorado Bertolucci acontecia .
Então , começou a planejar, o que seria seu último dia: o treino do amado time, o almoço, o cinema,o jornaleiro,a casa de massagens e deixaria por último a florista e quem sabe, ela não aceitaria o último convite, para passarem a noite juntos, pois a mesma tinha um frescor primaveril e sorria sempre e muito, mostrando dentes alvos, protegidos por lábios sensuais.
Súbito começou a chover forte. Tentou abrigar-se e correu para uma cobertura mais próxima. Não notou que um ônibus vinha em sentido contrário. O choque foi inevitável, sendo jogado longe.
Gritou, acordando banhado em suor, pensando que fosse a chuva.
Espirrou duas vezes. Seu dia tinha começado.
No solitário quarto de dormir, sua primeira visão foi de um quadro, emoldurado na parede, onde estava escrito:-" Fale a verdade e saia correndo!"

f.a.

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