O FIM DO MUNDO

                                           


Humanos/desumanos:

Fui parada, literalmente na rua para dar a minha versão sobre o mundo que ia acabar, mas felizmente para uns e infelizmente para outros, não acabou.
Estava levando meus lulus da Pomerânia para tomar sol, quando uma pequena multidão,solicitou-me a falar deste assunto. Estava de shortinho curto e atrevido para este verão enlouquecedor, uma blusa transparente tomara que caia que sustentavam (teimavam em não cair!...) . Com uma maquiagem básica,  cabelos dourados contrastando com a pele morena, adquirida no Caribe. Assustei-me. Quase caí de minha sandália italiana plataforma.
Retirei meus óculos de sol marrom francês e encarei os pedintes.
“- Muito bem, vou contar o que aconteceu com meu primo Uthopicus, aquele mesmo do GOOOLLLLLL!!!!(postado em 05/07/2010).
Uthopicus não aguardava o fim do mundo, contrário a todos os vizinhos que se preparavam para o final dos tempos, como nas teorias de Nostradamus; o papa Inocêncio 3º. ; Martinho Lutero; Sandro Botticelli e recentemente o Apocalipse Maia, que a grande mídia falada, escrita e televisada dizia ser infalível, na mosca! Eles viriam e com eles, o apocalipse!
Grande parte daquele povo, como num ato de desprendimento, lotou a igreja local, para confessar seus pecados e ser bem recebida no outro mundo.
Seu vizinho e também primo Alienathus e flia já tinham comprado víveres para uma temporada, roupas especiais, construído um bunker, no subsolo da casa, com tv, geladeira e tudo que a vida moderna pede para a despedida final...  Para se protegerem... Outros vizinhos construíram aqueles puxadinhos na laje, etc.etc. Além de orações, vigílias, para todos os credos, comuns nestas situações. O clima reinante não era de calamidade e sim um acontecimento festivo. Diziam que seres de outros mundos viria manter relações e estes não queriam decepcionar aqueles... A vila estava engalanada com cartazes desejando boas vindas aos invasores. Toda a vizinhança munida de dicionário em inglês, pois acreditavam que os extraterrenos dominavam aquela língua. Primo Alienathus comprou caixas de molho inglês para presentear os novos habitantes...
Uthopicus ignorava todo este movimento. O que causava certo mal estar na comunidade. Era o único diferente, alheio ao que chamava, sem medo, de alienação.
Eis que é chegado o grande dia. A agitação é frenética na vila. Ninguém saiu de casa. Silêncio total. As horas passavam. O dia vai terminando.
Alienathus Jr. por curiosidade e indisciplina,( seu pai tinha proibido que qualquer membro daquele clã  saísse à rua, até passadas às 24 horas regulamentares, como a mídia tinha instruído, sem descanso) viu e custou a entender as faixas que foram colocadas, substituindo aquelas de boas vindas aos seres de outros planetas, que diziam: O FIM DO MUNDO É O HOSPITAL QUE TE ATENDE! O FIM DO MUNDO É A ESCOLA QUE TEU FILHO FREQUENTA!O FIM DO MUNDO É A CORRUPÇÃO! O FIM DO MUNDO É A IMPUNIDADE!O FIM DO MUNDO É A PREOCUPAÇÃO COM VALORES QUE LEVAM A ALIENAÇÃO!
Dia seguinte todos saíram e retiraram indignados as faixas.Estavam tristes pois se prepararam e o fato marcante não aconteceu. Revoltados, procuraram por Uthopicus, para um acerto de contas, pois foi certamente ele o autor daquelas grosserias, no entender geral. Não o encontraram. Desapareceu... Dizem que entrou numa nave espacial para um simples passeio e preferiu não voltar mais. Virou lenda,folclore .
Quanto aos investimentos para o fim do mundo serão aproveitados no carnaval, cujo bloco da vila, já bolou o enredo com samba no pé e tudo que tem direito.”
Fui aplaudida, discretamente pela pequena multidão, que se afastava para ver mais um capítulo da novela, na telinha da TV.
Eu retornei a minha mansão estilo normando onde minha fiel governanta Goldawasser preparava um banho de sais bávaros em minha semi olímpica banheira egípcia.
f.a.