terça-feira, 7 de outubro de 2014

A VENTURA OU AVENTURA DE VOTAR




                

Humanos/desumanos:


Acordei cedo em minha mansão estilo normando, tomei uma ducha finlandesa na casa de banhos e após um rápido breakfast: pães integrais da Normandia, mel finlandês, queijos franceses, yogurt bávaro, frutas californianas da estação, etc. preparado pela fiel governanta Goldawasser, vesti-me. Para ir votar. Obrigatório votar, conforme leis vigentes. Claro que coloquei a roupa mais discreta e formal possível, dada à ocasião: nada de decotes, nada de carnes à mostra. Sapatos baixos. Algum blush, pintura discreta e fomos lá cumprir o nosso dever cívico. Dada à proximidade da zona eleitoral, dispensei a minha limusine azul profundo e com ela o meu motorista particular, o paquistanês Neca di Pitibiriba (Piti para os íntimos).  Mesmo assim, no trajeto a pé, cabelos esvoaçantes chamaram à atenção, como também à minha juvenil, curvilínea e estonteante beleza. Na calçada inundada e imunda de santinhos, alguns homens viravam a cabeça (como são tolos!) e escorregavam nos papéis dos candidatos à minha passagem, causando gargalhadas entre as militâncias rivais, que nas proximidades faziam um estardalhaço, ferindo os ouvidos. Entrei na escola. As imensas filas se misturavam de tal forma, que levei algum tempo para descobrir a minha seção. Entrei na grandiosa fila cívica, que parecia uma sinuosa serpente, onde a cabeça e o rabo já não se viam. Uma simpática servidora daquela zona informou-me que aquela fila era de idosos, pessoas com algum problema físico, gestantes. Algumas pessoas, já algum tempo no local, curiosas, perguntaram qual foi o cirurgião plástico que operou este milagre, em minha pessoa... Eu tive vontade de perguntar ao jovem rapaz, atrás de mim, em que mês estava em sua gravidez... O tempo passava lento e a fila não andava. A demora justificava-se no fato da biometria. Ela era a vilã da sofrida espera. Não funcionava após oito tentativas, apesar de termos dez dedos... Nisso, um odor de salgados é sentido e algumas pessoas os devoravam, sob meu olhar atônito e surpreso. Uma discussão de política é iniciada por duas criaturas que quase vão às vias de fato. A verdade estava em jogo: situação, oposição, voto em branco, voto nulo ou - que é que estou fazendo aqui? Um dizia que “-aquilo era um absurdo, pois tudo era feito, inclusive a biometria, com o nosso suado dinheiro!” O outro retrucava estar ali, -“justamente para tentar modificar esta situação calamitosa!”... Os dois litigantes sabiam até detalhes íntimos dos candidatos, inclusive seus antecedentes criminais, amantes, suas paixões futebolísticas, pratos preferidos... Fiquei estarrecida. Comecei a ter leves tonteiras. Sentei-me num banco de concreto. Lembrei-me do escrito O ELEITO (31/10/2010). Fechei os olhos e pensei nos Lagos Andinos. Melhorei. Após duas horas e meia, uma mesária comendo biscoitos e reclamando de tudo e de todos me atendeu. Meus oito dedos foram insuficientes... Liberou-se a cabine (ridiculamente cercada com rotos panos, para sua privacidade) e votei!Aleluia!O país estava salvo!...

Dado o tempo que fiquei à mercê da justiça eleitoral, meu segurança Pindoramus Ridicullus (PR para os íntimos) aguardava-me ansioso. Acompanhou-me até a minha mansão, onde após um banho de imersão em minha dourada banheira semi-olímpica egípcia com sais turcos e alguns soníferos, orientados por meu psicoterapeuta austríaco, consegui dormir. Sonhei com o Inferno de Dante Alighieri em sua Divina Comédia.

Acordei com sol fulgurante e com uma esperança varonil para o dia.

f.a.


12 comentários:

  1. Querida Florinha
    Estava com muitas saudades.
    Há muito que não sabia nada de ti.
    Votar é um ato cívico de suma importancia,
    espero sinceramente que tenha aproveitado essa oportunidade com a sensatez e o equilíbrio de sempre.
    Espero tambem q o desconforto da desagradável espera,
    não tenha tido efeitos nefastos no seu lindo corpicho e nem mesmo na sua cútis de pérola chinesa.
    com todo amor de sua fiel admiradora, Carioca Selvagem

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    1. Amada leitora Carioca Selvagem:

      Agradeço comovida às gentis palavras.
      Saiba que, quando atingir aos 70 anos( caso chegue lá...) ausentar-me-ei desta (a)ventura de votar.Até lá, quem sabe o voto não será mais obrigatório?
      Felizmente,a torturante espera não produziu danos nefastos em meu estonteante corpicho( adorei o termo! se me permite) e nem na cútis oriental.
      tb. com intenso e flamejante amor; sempre sua;
      f.a.

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  2. Niterói sempre nos dá orgulho, Flora!!!! Força na peruca! :D

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  3. Querida S.G.:
    Grata por sua atenção. A melhor coisa de Nichteroy é a vista do Rio de Janeiro...
    Não uso peruca, mas caso precise para aumentar minha estonteante beleza, usarei.
    Bjs, Sempre sua;
    f.a.

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  4. Florita querida. Voltaste votando. Se me permite. Não se desiluda. O progresso exige sacrifício. Aconselho lubrificar os dedos e mante-los aquecidos, até a hora de votar, de preferência em um bem quente do seu corpicho.

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  5. Adorei a estratégia de pensar nos Lagos Andinos!

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  6. Queridíssima Janaína:
    Grata por sua atenção e pelas generosas palavras.Os Lagos Andinos lembram o paraíso, caso exista!
    Sempre sua;
    f.a.

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  7. Querida e invejada(por mim) Flora Alma .
    Ainda bem que você ,voltou sâ e salva, depois da árdua maratona cívica, para cumprir seu dever de votar. Ainda bem , que na próxima eleição, você não passará por tão exaustiva prova, já que terá completado seus 70 anos( eu ainda vou ter que aguarda, vários anos, para não passar por tão tenebroso dever). Amiga, sua piscina dourada é o mais íntimo e secreto objeto de consumo, mas, o maior,( naõ tão secreto) é o seu motorista,o charmoso, sexi, maravilhoso, Neca di Pitibiriba ( fico toda arrepiada só de pensar nêle) A amiga mo cederia, por algumas semanas, ficaria eternamente grata e guardaria, só para mim, o nome de seu cirurgião plástico, Sua mui amiga,
    Florestia

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  8. Querida/amada Florestia:

    Generosas palavras! Há porém, um doce engano de sua parte:FALTAM DÉCADAS PARA EU COMPLETAR 70 ANOS!!!!... Que idéia!! Ora já se viu!!...Falarei com o meu fiel, moreno e sexy motorista Neca di Pitibiriba( Piti para os íntimos) sobre seu desejo... Fora do seu expediente normal de trabalho,12 horas, ele é livre!! Use-o, abuse-o e lambuze-o!!...
    Quanto ao cirurgião plástico ele é da Transilvânia( Dr.Kúrtz Syllicones Dracul), e o 49 Circular não passa lá...
    Sempre sua;
    f.a.

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  9. Sua Flora Alma parece ser uma felizarda. Uma, dentre tantas brasileiras eleitoras desenformadas e pouco engajadas, mas que gostariam de desfrutar as benécies da vida de Flora. Esta foi exercer sua cidadania preocupada apenas com sua aparência. Assim como a maioria das mulheres que hoje supervalorizam seu exterior e não se interessam por política ou qualquer coisa que diga respeito ao bem-comum. Acho que a sua Flora representa bem muitas mulheres brasileiras. Fiquei até admirada por ela ir a uma manifestação (em outra crônica), mas logo vi que sua presença teve muito pouco a ver com ideais.
    Enfim, sinto que existem muitas mulheres Floras e poucas Almas nos dias atuais no nosso país...
    Acho que você "pegou" bem as características que quase todas as mulheres atuais apresentam. Uma personagem bem caricaturada que em verdade se aproxima da realidade ou do sonho de beleza e riqueza alienadas da maioria das mulheres de nossa sociedade.
    Gostei de ler. Parabéns pela criatividade. BIBI FERREIRA

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    1. A tempo corrijo: "eleitoras desinformadas" e pouco engajadas. Até que são bem "enformadas" nas academias que proliferam em todos os bairros da cidade.

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  10. Querida e ( agora) fiel leitora Bibi Ferreira:

    Uma honra e prazer responder tal ilustre pessoa, tratando-se da maior atriz de nosso cenário.Agradeço as generosas palavras. Perdoe-me, mas não existe "sua Floraalma". Eu sou a floraalma.Esclarecida, culta e... bela!
    Sugiro ler O ELEITO, Fato ocorrido comigo em nossa cidade.O mesmo em ACADEMIA. Críticas que por certo apagarão a impressão que teve de minha pessoa.Já dizia titia Víbora:-" Sou loura mas não sou burra!..."
    Sempre sua;
    f.a.

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